Este é um artigo de Rebecca Eanes, publicado no site, Creative Child, traduzido para português de forma livre por Parentalidade Digital.
Pode ler o aqui o original em inglês.
“
Há muito que a vergonha é exercida como uma ferramenta poderosa para modificar o comportamento de uma criança. Quando levadas a sentir-se indignas, as crianças geralmente se esforçam mais para agradar aos pais, dando a ilusão de que estão “funcionando”, mas esses sentimentos de inutilidade causam cicatrizes profundas que podem levar uma vida inteira para sarar.
A vergonha inclui comentários verbais como “pare de agir como um bebé”, “seu filho travesso” e “você é tão estúpido?” bem como a infeliz tendência de vergonha pública e humilhação nas redes sociais.
O auto-conceito em desenvolvimento
O auto-conceito é a imagem que possuímos de nós mesmos – de nossas habilidades, nossa natureza, qualidades e comportamento típico. Isso é formado nos nossos primeiros anos pelo que ouvimos sobre nós mesmos através daqueles que são mais próximos de nós.
Em essência, as crianças passam a ver-se da maneira que os seus pais e cuidadores as vêem. Portanto, quando recebem constantemente a mensagem de que são “más”, “malcriadas” ou “estúpidas” ou que “agem como um bebé”, essa mensagem é internalizada.
Como o auto-conceito determina o comportamento, as crianças irão demonstrar como se sentem por dentro. Uma criança que se considera má exibirá, portanto, mau comportamento, fazendo com que os pais adicionem mais uma critica humilhatória num esforço para controlá-la. O ciclo perpetua-se.
O caminho mais fácil
Temos o hábito de reduzir as crianças a nada além do comportamento, e tratamos apenas o comportamento que vemos, em vez de tratar o ser humano por de trás do comportamento.
Quando estamos focados apenas em tratar o comportamento, podemos ser rápidos em distribuir punições ou usar táticas de vergonha para obter conformidade.
Quando estamos focados no tratamento do ser humano, somos capazes de ter empatia, ensinar e orientar a criança para um melhor comportamento.
Essa é obviamente uma abordagem mais saudável, mas é preciso mais tempo e esforço.
A vergonha é rápida e muitas vezes eficaz, por isso não se deixe ir pelo caminho mais fácil. Há um ser humano valioso e digno por trás desse comportamento.
O custo da vergonha
A vergonha não diminui o comportamento; diminui o eu. Por sua vez, isso poderá afetar o comportamento, mas a que custo? De acordo com bons filhos – a que preço? O custo secreto da vergonha de Robin Grille e Beth McGregor, numerosos estudos associam a vergonha ao desejo de punir os outros.
Indivíduos envergonhados são mais propensos a serem agressivos e exibem comportamento autodestrutivo.
A vergonha faz com que as pessoas se afastem dos relacionamentos, tornam-se isoladas e compensam sentimentos profundos de vergonha com atitudes de superioridade, intimidação, autodepreciação ou perfeccionismo obsessivo.
Quando a vergonha é grave, pode contribuir para a doença mental.
Em vez de envergonhar
Existem várias maneiras de ensinar as crianças sem agredi-las ou humilhá-las. Estas alternativas foram retirados do blog Positive Parenting Connection de Adriane Brill e traduzido para português pela Plataforma Família.
- Faça uma pausa junto da criança: a chave é fazer isso com o seu filho, antes que as coisas saiam do controle. Se o seu filho está num momento difícil ou está a fazer escolhas inseguras, como bater em algum colega, encontre um espaço tranquilo para fazer uma pausa em conjunto. Apenas cinco minutos para vocês se conectarem, para ouvir o que seu filho está sentindo e falar sobre as escolhas mais apropriadas, são coisas que realmente ajudam. Isto é semelhante ao que se chama de time in, um momento de acolhimento onde os pais trazem o filho para perto, ao invés de provocar afastamento.
- Segundas chances: todos já cometemos um erro e nos sentimos aliviados por ter uma nova chance para tudo outra vez. Ou não? Muitas vezes, deixar que as crianças tentem novamente permite-lhes resolver o problema ou mudar seu comportamento. ”Eu não te posso deixar espalhar a cola na mesa inteira, mas queres tentar fazer isso de novo no papel?”
- Resolva o problema em conjunto: se existe um problema e seu filho tem um comportamento causado por frustração, dar a oportunidade de ele falar sobre o problema e ouvir a solução que ele tem pode mudar as coisas para melhor.
- Pergunte: às vezes, os nossos filhos fazem certas coisas, e nós não entendemos muito bem essas coisas. Nós podemos supor incorretamente que eles estão a fazer alguma coisa “ruim” ou a ser “desobedientes” quando, na verdade, eles estão a tentar entender como alguma coisa funciona. Pergunte o que eles estão a fazer com a intenção de ouvir e entender em primeiro lugar e, então, ajude-os dando a saída adequada ou uma informação que está em falta. Em outras palavras, tente “O que é que estás a tentar fazer?” ao invés de: “Por que diabos estás… Aaaah!!! Já pro quarto!”
- Leia uma história: outra ótima maneira de ajudar os filhos a entender como fazer escolhas melhores é lendo histórias com personagens que que também cometem erros, ou que passam por sentimentos intensos, ou que necessitem de ajuda para fazer escolhas melhores. Além disso, ler para os filhos pode ser uma forma muito positiva de se reconectar e dirigir a nossa atenção para os nossos filhos.
- Bichinhos e brincadeiras: as crianças pequenas adoram ver fantoches ou bonecas ganhar vida para ensinar lições positivas. “Olá, eu sou o ursinho e oh…parece que este chão está todo rabiscado. Estou voando para a cozinha para pegar uma esponja para limparmos o chão juntos. Vens comigo!” E depois de limpamos juntos: “Ah, agora vamos buscar um pouco de papel, para me fazeres um desenho no papel? O papel é para desenhar e colorir com lápis de cor!”
- Dê duas opções: vamos dizer que seu filho está a fazer algo completamente inaceitável. Ofereça-lhe duas alternativas que são seguras, respeitosas e aceitáveis, e deixe que ele escolha o que ele vai fazer a partir daí. Ao receber duas opções, a criança pode manter algum controle sobre as suas decisões e ainda aprender sobre limites.