De joelho esfolado e sorriso na cara!

Se depois de brincar, a criança precisar de um banho urgente é de certeza uma criança feliz.

Uma criança não nasce para ficar sentada um dia inteiro, quer seja numa sala de aula, a ver televisão ou a jogar consola. Uma criança precisa de espaço para brincar, para imaginar mundos de fantasia com os amigos, para descobrir  o mundo que a rodeia.

As crianças saudáveis são barulhentas, sonhadoras, andam sempre com os joelhos esfolados e com as calças sujas de relva. As crianças saudáveis são curiosas, querendo sempre saber o “porquê”.

É tão estranho que as crianças, até entrarem nas escolas, estejam constantemente na idade dos “porquê” e, assim que entram, parecem sair precipitadamente dela — a escola devia ser quem mais incentiva o “porquê”.

-Eduardo sá –

A importância de brincar

Actualmente é mais que reconhecida a importância do brincar no desenvolvimento social, emocional, cognitivo e físico da criança.

As vantagens de brincar verificam-se a vários níveis [1]:

  • Em contraste com o entretenimento passivo, o brincar cria corpos ativos e saudáveis[2].
  • Intelectualmente, estimula a aquisição de competências, treino da atenção e capacidade de resolução de problemas .
  • No plano emocional e social, brincar proporciona diversas situações em que é testada a relação com os pares, permitindo desenvolver a resiliência. Além disso, ao transferir para a brincadeira objectos ou fenómenos da realidade externa, a criança constrói as bases para a compreensão de si própria e do mundo , expressando os seus medos e frustrações, mas também a sua criatividade.
  • Brincar é uma forma privilegiada de interacção entre pais e filhos, facilitando a comunicação e a cumplicidade.
  • Brincar ao ar-livre, meter as mãos na terra, fortalece o sistema imunológico e reduz a probabilidade de adquirir alergias. [3]

 

Apesar dos benefícios derivados do brincar para as crianças e os pais, o tempo de brincadeira livre foi marcadamente reduzido. Os pais estão cada vez obcecados com o sucesso, as notas, os trabalhos. As brincadeiras  espontâneas e livres não cabem nas agendas cheias de actividades extra-curriculares e deveres escolares.

«Desde cedo as crianças são expostas a brinquedos, vídeos, livros e computadores, concebidos para assegurar que são adequadamente estimuladas. O stress e a ansiedade aliados a este perfeccionismo e exigência podem ter consequências graves no futuro».

-Sociedade Portuguesa de Pediatria-

Abrandar e simplificar

Estamos a criar as nossas crianças com muitas coisas, muitas actividades, muita informação mas com muito pouco tempo. «Impedimos-las de explorar, refletir ou aliviar as tensões que acompanham a vida quotidiana. Enchemo-las de tecnologia, brinquedos e atividades escolares e extracurriculares, distorcemos a infância e, o que é pior, impedimos-las de brincar e se desenvolver» [4] .

Há quanto tempo não leva a sua família a passear na natureza? Não estou a falar em desbravar uma qualquer floresta, ou fugir de leões na savana africana. Estou e referir-me a ir à praia apanhar conchas, ou ao parque procurar pequenos bichinhos e folhas de várias cores. Ir brincar para o jardim, apanhar pedrinhas ou flores.

Precisamos  de abrandar e simplificar. Precisamos de deixar que  as nossas crianças brinquem, saltem, corram e que cheguem a casa sujas e com os joelhos arranhados!

 

Fontes:

[1] Marta Póvoas et al. , Sociedade Portuguesa de Pediatria, “O brincar da criança em idade pré-escolar”;

[2] Kenneth R. Ginsburg, AAP, “The Importance of Play in Promoting Healthy Child Development and Maintaining Strong Parent-Child Bonds”

[3] Anthony Wong, pediatra, diretor do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

[4]  Raquel Aldana, “Un niño sano es espontáneo, ruidoso, inquieto, emotivo y colorido”